quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Para onde caminha o futebol?

Para onde caminha o futebol?

Este espaço destina-se a proporcionar reflexões sobre o treino do futebol, dando especial enfâse ao treino do jovem atleta em formação na modalidade.

Chamo-me João Silva, fui treinador na escola de futebol "Os Belenenses" sendo responsável pelas equipas de Traquinas B (2010) e Petizes A (2011) e Petizes B (2012/2013). Sou licenciado em Ciências do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana, candidatei-me ao Mestrado em Treino Desportivo pela FMH e vou iniciar o mesmo em Setembro de 2018 e estou como coordenador do Sabuguense, clube de uma menor dimensão do anterior mas que me permitirá pensar mais sobre o jogo e ter maior autonomia para implementar uma metodologia de treino.

Para mim o treino é vida, isto é, adoro treinar, adoro pensar sobre o treino, adoro dar treino e não me imagino atualmente a viver sem o treino. Quando penso em treino não penso em futebol, esta é a minha modalidade predileta enquanto observador e pensador, mas a minha formação desportiva esteve sempre longe do futebol, tirando as jogatanas na escola ou o jogo na calçada e ringues com amigos, conhecidos e desconhecidos, pouco sei falar sobre treino do futebol na ótica do jogador. No entanto a minha formação eclética conduziu-me a diversos desportos, sobretudo individuais  mas onde o sentimento de pertença à equipa é forte e o companheirismo é importante, passei pelo basquetebol (única modalidade coletiva que pratiquei enquanto processo de treino estruturado), natação, ténis de mesa, krav mag e jiu jitsu.

O ecletismo da minha formação permite-me olhar com algum distanciamento para o treino do futebol, deixando de lado os escalões de "expertise", a minha formação desportiva permite-me perceber que a obsessão pelo modelo de jogo ou a cegueira do resultado, são contraproducentes com a correta formação desportiva dos atletas. Assim olhando para os modelos de treino onde estive inserido há sem duvida algo que me "salta à vista", os melhores atletas com quem convivi nas diversas modalidades eram atletas com uma condição física superior, a maior parte deles jogava bem muitas modalidades diferentes, pois mesmo não tendo técnicas de execução perfeitas tinham uma capacidade física que lhes permitia sobressair.

Então esta é sem duvida a minha primeira premissa para o meu modelo de treino, seja no futebol ou seja na dança é importante que os praticantes tenham uma estimulação tal que lhes permita adquirir uma condição física de excelência.

A formação eclética em idades precoces (até aos 12 anos) é na minha opinião fundamental, no entanto no fenómeno do futebol é comum encontrar atletas que apenas praticam futebol. É constrangedor perceber que meninos com 6 anos de idade não sabem dar uma cambalhota, algo que por norma os meninos deveriam fazer sozinhos e divertir-se com isso, pelo menos eu fazia enquanto menino, percebo que a falta de estimulação para o movimento do corpo e a quantidade de tempo gasto em jogar o jogo de futebol possa minimizar o impacto de haver meninos que mesmo treinando 2 e/ou 3 vezes por semana, não conseguem ter um efetivo controlo do corpo e não conseguem ter uma aptidão física de excelência, no entanto deveria ser uma preocupação combater o "analfabetismo muscular" que cada vez mais se visualiza nas fases iniciais do treino de futebol.

Para mim todo aquele que procura inserir-se num processo de treino deve ser visto como um futuro atleta, nunca como um futuro jogador de futebol. Assim antes de olhar para a modalidade em si deve o processo de treino orientar-se para o atleta e o seu correto desenvolvimento, sabemos que um atleta será tanto mais especialista numa fase avançada quanto mais alargada for a sua base de movimento nas etapas de iniciação. Assim viver na obsessão do jogo, da ideia do jogo, das técnicas e táticas do jogo é redutor. Acima de tudo o processo de treino deve focar o mais correto e harmonioso desenvolvimento do atleta, só adequando os estímulos ao estádio psicológico e ao estado de maturação biológico do atleta, vai ser possível dotar os atletas de uma base motora alargada que permitirá o desenvolvimento das técnicas especificas do futebol nas etapas de especialização.

Assim importa perceber o que é a especialização precoce.